A quase totalidade dos brasileiros não percebe, mas até cursos técnicos e faculdades / universidades / cursos superiores vendem falsos conceitos e ideias antiquadas através de propaganda enganosa, visando ludibriar pessoas ingênuas quanto a ensino com o objetivo de aumentar seu faturamento.
Algumas cursos técnicos e universidades dizem em suas publicidades ter estrutura completa para se aprender tudo na prática – para ser mais preciso, a frase principal de um folder de uma universidade do estado do Rio de Janeiro era “estrutura completa pra você aprender tudo na prática”. Porém, levando em consideração a realidade e muitos fatos, isso é um grande equívoco, falso conceito e poderia dizer até que é mentira, pois aprender tudo na prática se entende que não haverá teoria, livros, nem sala de aula – o que não ocorre / não deve ocorrer em nenhum cursinho, muito menos em curso superior.
Em modelos eficientes de ensino e treinamento, não existe bom curso sem uma boa teoria. Obviamente que a universidade que divulga este conceito em seu material publicitário não aboliu 100% o material didático (livros, apostilas e outros). Provavelmente os responsáveis pela publicidade foram ingênuos, imaturos ou muito maliciosos.
Gostaria de deixar claro que a teoria é de fundamental importância em qualquer tipo de curso. Os livros / apostilas e a teoria verbal geram conhecimento base necessário no aprendizado, treinamento, aplicação prática e principalmente, no desenvolvimento das habilidades bases essenciais.
Para ilustrar, imagine se um motorista, piloto de aeronave, engenheiro, jornalista, design, cirurgião e todas as outras atividades fossem aprender tudo na prática, sem uma boa teoria, sem livros, apostilas e ou outros… seria o mesmo que ocorre em muitas atividades técnica e profissionalmente imaturas como muitos cursos de DJ e produção musical. E neste caso não haveria necessidade de curso, muito menos de universidades. Bastaria cada um começar a trabalhar e aprenderiam na “prática”, ou melhor dizendo, na tentativa e erro.
Outra universidade no mesmo estado veiculou uma publicidade em grande canal de TV dizendo que seus instrutores são profissionais atuantes em suas especialidades. O que é um outro grande erro, pois normalmente profissionais que atuam em suas atividades e ao mesmo “tempo”, ministram aulas / cursos, certamente, na melhor das hipóteses, em uma ou em ambas as atividades teria desempenho muito inferior, abaixo ao que poderia e deveria. Isso normalmente ocorre devido ao tempo necessário de dedicação, estudos, pesquisas, preparação e atualização exigido por cada atividade, e também devido ao provável cansaço, especialmente mental, gerado por cada uma.
Obviamente que se um advogado atuar durante o dia de forma satisfatória, certamente a noite estará cansado e muito provavelmente não teve tempo e nem “cabeça” para preparar a aula de forma apropriada, ou vice versa. Para ser um bom instrutor é necessário que o profissional se prepare adequadamente e esteja mentalmente em forma / descansado.
Não é o fato de estar atuando em sua especialidade que o fará um instrutor bom; muito pelo contrário. Como mostrado acima, o tempo requerido e o cansaço gerado pela sua atividade poderá comprometer significativamente sua atuação como instrutor e vice-versa, claro! Uma forma de se ter um desempenho razoável e satisfatório atuando como instrutor e em outra atividade ao mesmo tempo, é equilibrando, direcionando bem o tempo de atuação em cada atividade.
Uma boa opção no caso de um advogado ou médico, por exemplo, seria que, quando fosse atuar como instrutor durante 4 horas, trabalhar somente entre 4 e 6 horas em sua outra atividade. Para que a aula / desempenho seja razoável / aceitável, deve ter um descanso de no mínimo duas horas antes da mesma. O melhor tipo de professor é aquele que já atuou durante alguns anos, depois se tornou estudioso e posteriormente instrutor, e se dedica quase que exclusivamente a área de treinamento, tanto ensinando quanto estudando, pesquisando e se atualizando.
É muito fácil perceber a falta de maturidade técnica e profissional da maioria dos que se formam em diversas atividades, inclusive direito e medicina, e grandes mídias periodicamente veiculam matérias sobre este assunto. Não sei se estes casos são pensados, mal intencionados ou por pura falta de maturidade por parte dos elaboradores do material publicitário ou da própria instituição. O MEC e o PROCOM deveriam fiscalizar estas práticas e estes conceitos pois isso, além de ser um jogo sujo, gerar concorrência desleal e ludibriar pessoas imaturas e ingênuas, contribui para diminuição significativa da qualidade dos profissionais do mercado.
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